O Massacre de Nanjing (Nanquim) - 1937

sábado, 22 de junho de 2013


Os desentendimentos entre China e Japão são seculares, mas na história moderna, estes desentendimentos tiveram início em 1894, quando teve início a chamada “Primeira Guerra Sino-Japonesa”, que terminaria em 1895, com a vitória japonesa. Esta guerra marcaria o início da ascensão militar japonesa e o início da derrocada da China imperial.

As tensões entre os dois países continuaram ao longo dos anos seguintes até 1931, quando ocorreu o chamado “Incidente de Mukden”, a sabotagem ferroviária ocorrida em 18 de setembro de 1931, no sudoeste da Manchúria, onde militares japoneses explodiram uma seção da ferrovia do sul da província, de propriedade do Japão, nas proximidades de Mukden, atual Shenyang. O exército imperial japonês acusou dissidentes chineses pelo ato de sabotagem e utilizaram o fato como pretexto para a invasão e anexação da Manchúria.



A China já se via dividida internamente por uma guerra civil, onde comunistas e capitalistas de degladiavam para ver quem assumiria o poder. O exército chinês era mal equipado e mal treinado, sendo constituído inclusive por criminosos e simples camponeses. Já o exército japonês era muito mais profissional e melhor equipado.

As tensões entre as nações só fizeram aumentar, numa espécie de guerra não-declarada, culminando com outro incidente, o “Incidente da Ponte Marco Pólo, ocorrido em 7 de julho de 1937, considerado o início da Segunda Guerra Sino-Japonesa, que só terminaria em 1945, com a derrota do Império do Japão.


O Japão então dá início à sua campanha de conquista da China em agosto do mesmo ano, sem uma declaração formal de guerra, bombardeando Xangai. Durante quase um mês, o exército japonês desembarca tropas e equipamentos na costa chinesa, afim de estruturar nove unidades de infantaria e duas unidades de artilharia. Estas unidades marchariam a Xangai, conquistando a cidade após quatro meses de combates, ao final de novembro de 1937. O Exército Imperial do Japão estava agora a apenas 300 quilômetros de Nanjing, a capital chinesa. Com a queda de Xangai, a população civil e o remanescente do exército chinês, batem em retirada em direção à capital, adotando a tática da “Terra Arrasada”, destruindo todos os recursos que possam auxiliar o exército inimigo a se estruturar e ganhar força.


O exército chinês, se divide então para combater em três frontes, ao norte, ao sul e ao leste de Nanjing. Já o exército japonês divide suas forças em dois frontes, norte e sul e inicia sua marcha a Nanjing.


As forças chinesas se batem contra as forças japonesas, mas a superioridade militar japonesa se faz sentir, as tropas chinesas são derrotadas e seus remanescentes são obrigados a recuar a Nanjing, onde se agrupam sob o comando do general Tang Shengzhi, com a missão de defender a cidade. Ele então declara publicamente que irá manter o fronte com suas tropas e que se for necessário, ele e seu exército morrerão na defesa da capital. É realizado então o recrutamento de 100’000 novos soldados na cidade. A grande maioria sequer tem algum treinamento militar.


Além disso, as tropas do general Tang não contavam com nenhum apoio aéreo e terrestre e nenhuma comunicação entre elas. Estas foram as tropas que tiveram a ingrata tarefa de impedir o avanço das forças inimigas, numa batalha que teve início em 05 de dezembro e que se estendeu até a queda da cidade em 13 de dezembro do mesmo ano.


As forças militares japonesas, sob o comando do Príncipe Tenente-General Asaka Yasuhiko, recebem a ordem para tomar a cidade de assalto, além disso, veio a ordem para que o exército imperial japonês eliminasse imediatamente todos os prisioneiros de guerra, fossem eles homens, mulheres ou crianças.


Quando a cidade foi tomada, em 13 de dezembro, as ruas estavam repletas de civis desesperados e soldados chineses que tentavam resistir sem qualquer espécie de organização. Os soldados japoneses iniciaram o fuzilamento indiscriminado de chineses, em busca da neutralização de qualquer espécie de resistência.


Em poucas horas, o exército japonês obtêm o controle da cidade, com uma fúria bárbara e brutal. Todos os militares chineses sobreviventes são então identificados e separados dos demais prisioneiros, sendo então torturados, fuzilados, enforcados ou decapitados.


A organização civil também é brutal, as pessoas são separadas por sexo e idade. O exército japonês inicia a busca sistemática em toda a cidade. As execuções são realizadas em todos os cantos, inclusive nos templos. Num vislumbre de bestialidade, centenas de pessoas são obrigadas e se dirigir a uma pedreira, onde são obrigados a entrar em um imenso buraco, formado pela extração do material, que se transformaria em sua sepultura. Quando já estavam no interior do buraco, soldados japoneses cercaram o local e abriram fogo com metralhadoras e fuzis. Como muitas pessoas não morreram em virtude deste primeiro ataque, os soldados japoneses receberam a ordem para procurar sobreviventes e executá-los.


Infelizmente, a brutalidade não estava perto de se findar. Sob o comando do general Iwane Matsui, a brutalidade tomou formas ainda piores:


Como numa prática esportiva, soldados japoneses disputavam entre si para saberem quem era o mais rápido e eficiente em decapitar prisioneiros;

Prisioneiros eram usados como alvo-vivo em exercícios de assalto com baionetas.

Na tentativa de justificar os assassinatos de civis, oficiais japoneses alegaram se tratar de militares disfarçados. Entre algumas das brutalidades descritas por testemunhas sobreviventes, podemos destacar que em diversas ocasiões, os soldados japoneses obrigavam os filhos a estuprarem sua próprias mães. Os que se recusavam ,era assassinados imediatamente.

As mulheres em especial, eram também “caçadas” por soldados japoneses, para que estas servissem como “escravas sexuais” de oficiais e soldados, em Nanquim e nas imediações. Além disso, muitas mulheres foram “exportadas” como escravas sexuais, para os mais de 2000 bordéis militares criados pelo Japão.


Curiosamente, um nazista seria uma das figuras mais importantes no auxílio aos chineses. O alemão John Rabe, então representante da empresa alemã Siemens na China, valeu-se do fato de ser filiado ao partido nazista, para pedir que Berlim pressionasse o Japão, para que este respeitasse a região onde a propriedade alemã estava, como uma “Zona Neutra”. Ele chegou ao ponto de pendurar no teto de sua casa uma enorme suástica pintada em tecido, para que os japoneses não usassem a desculpa de não saber qual era sua casa. Rabe conseguiu reduzir os assaltos dos soldados japoneses à zona neutra em busca de chineses refugiados e mulheres para serem usadas como escravas sexuais, o que lhe valeu postumamente o título de “Schindler de Nanjing”.


A bestialidade durou cerca de seis semanas, estendendo-se até fevereiro de 1938, embora não se possa precisar com exatidão. De 150 a 300 mil pessoas foram executadas nas mais atrozes condições (mulheres estupradas, homens torturados, crianças enterradas vivas). A cidade foi saqueada e incendiada. Um sem número de corpos foi queimado junto com a cidade, outros foram jogados no rio Yang Tsé e outros enterrados aos montes.


O massacre de Nanquim seria o único crime de guerra a ser tratado em separado pelo Tribunal de Tóquio. O general Iwane Matsui foi condenado à morte por não ter impedido a carnificina cometida pelas tropas que comandava.


Embora existam muitas provas sobre tamanha brutalidade, o governo japonês se recusa a reconhecer ainda hoje, os crimes cometidos pelo seu exército, a exemplo da Turquia, que também se recusa a reconhecer o genocídio cometido contra os armênios em 1915. Em 2004 o Ministro da Educação japonês ordenou que este tema fosse retirado dos livros didáticos japoneses, por alegar que o fato nunca aconteceu.